Estou a comer arroz com peixe e a ouvir Aphex Twin no meu leitor de mp3 sentado num banco à frente de um restaurante de rua. Um jovem de uns dezesseis anos, de maneiras gentis e adocicadas, que já há algum tempo me lançava olhares furtivos do outro lado da rua, vem sentar-se a meu lado. Não diz nada durante muito tempo, mas percebo que está a tentar ganhar coragem para o fazer. Retiro um dos phones do ouvido, como que para lhe abrir os braços, dizer que pode falar à vontade. O gesto é correctamente interpretado e pergunta-me de imediato, cheio de simpatia, num português débil:
- Você tem Leonaldo, aqui? Tem? – aponta para o Ipod.
- Quem?!
- Leonaldo.
- Quem é o… – mas não me dá tempo para terminar a pergunta. Começa a cantar, em compasso acelerado, com tanta desafinação quanto entusiasmo:
- «Amor feito de paixão quando perdoa a razão nem sabe que vai machucar quem ama nunca sente medo de cantar o seu segredo porque sabe amar».
- Não conheço, estou a ouvir uma música que se chama «Analog Worm Race».
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