quinta-feira, 9 de abril de 2009

La lutte

Moussa é um jovem pescador senegalês de 18 anos que parece um peixe negro. Tem a pele muito lisa, monótona e perfeita como a de um bebé, e dá sensação de estar envolvido mais numa película negra artificial, colada à carne, do que de facto num tecido orgânico.

Desde os nove anos de idade que, dia sim, dia não, das cinco da manhã à uma/três da tarde, Moussa parte para pescar no mar em frente da sua aldeia, Palmarin. Moussa não conhece outras realidades que não essa mesma aldeia e o mar que a galga, nunca esteve em Dakar, ou noutras partes do Senegal e muito menos noutro país, mas considera-se um afortunado porque, por ser o mais novo da sua piroga, é ele quem detém o privilégio de envergar o único coletes salva-vidas.

No entanto, segundo Moussa, no mar como em terra, a dormir como acordado, o seu pensamento está apenas num lugar, que não é nenhum dos mencionados, nem nenhum dos que conhece: Moussa quer tornar-se num lutador de luta livre senegalesa. Por isso, nos dias de pesca como nos outros, entre as cinco da tarde e as oito da noite, castiga implacavelmente o corpo com exercícios no areal da praia de Palmarin.

Tréguas ao Cristiano Ronaldo, abram alas para Yekini, Balla Béye e tantos outros. Por momentos conseguimos - refrescantemente - esquecermo-nos que o mundo é uma bola.

A "lutte", desporto nacional senegalês, gruda os olhos de milhares de jovens aos ecrãs de televisão, detona bombas de histeria humana por onde passa, arranca estampidos dos djembês e tam-tams, e, entre tantos, pinta os sonhos de Moussa.

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