quarta-feira, 3 de junho de 2009

Curto apontamento sobre sexologia

Não o faço porque diga directamente respeito a África ou aos homens e mulheres africanos, mas porque aqui se procria amiúde e as paredes não são de grande qualidade, oferecendo-nos o continente uma viagem inesquecível (a menos que se tenham uns phones a funcionarem correctamente, caso que não era o meu) à intimidade humana. Não se trata de desconhecimento, meu Deus, nesse caso alugue-se um filme, mas, em tantos aspectos da sua ciência, não há nada que substitua a assimilação sensória do sexo alheio. É que há certos sons que nos passam ao lado quando fazemos amor, ou de que depois nos esquecemos, há certas palavras que ganham uma aura de irrealidade, de fantasia, meros segundos após o orgasmo, e depois há o tempo, do qual nunca se sabe nada (mas quanto durou afinal?), e há também a história do acto, conhecimento absolutamente inacessível ao praticante: os preliminares do conto, o seu ritmo e a sua evolução, os momentos de tensão, o desfecho.

Sobre tudo isto tenho aprendido agora à força, e a perturbação infligida pela crueza pornográfica da lição é frequentemente recompensada pela riqueza desta nova erudição. Hoje quero apenas partilhar o seguinte que, repito, não julgo ser um pedaço de informação étnica ou geograficamente localizável. Pois bem, descobri que as mulheres, durante o acto, dos preliminares ao clímax, recorrem, para exprimir o que lhes vai na alma e no corpo, e num destacadíssimo primeiro lugar, à vogal “a”, por vezes prolongada com um “i”, de feitio a formar o ditongo “ai” (é possível todavia que isto seja influência da África lusófona, já que nós é que somos aquele povo que tem a mania dos ditongo). Adiante. Em segundo lugar, fica a vogal “o”, quase sempre emudecida por um “h” de remate: “oh, oh”. O “u” é raro, mas acontece. É sensualíssimo e sincero. O “i”, bem, o “i”… Uma preciosidade sonora que é fruto de um descontrole absoluto, de um completo abandono à causa, digo eu. Finalmente, o caso particularíssimo do “e” que, arrisco argumentar, a partir da minha experiência de campo, se trata da única vogal que não faz parte da gama sonora amorosa feminina. Claro, desafio desde já quem quer que seja a apresentar provas do contrário.

Faça “i”, “ao, ao” ou “uaah”, muda ou aos berros estridentes, a fingir ou a gostar, o macho responde à mulher com admirável consistência: contrapõe sempre os mesmos monocórdicos roncares involuntários, grunhidos regurgitados assim sem querer, animalescos, absolutamente primitivos, provenientes de cérebros onde não está acontecer mesmo nada.

Nem na cama somos iguais.

Sem comentários:

Enviar um comentário